sábado, 26 de junho de 2010

Refletindo sobre as águas das imagens - Pelos Jardins Boboli (parte 2)

A Leitura da Imagem

Segunda parte.

Ao estudarmos a imagem impressa, não importando em qual suporte

— vídeo, papel, película etc. —, vamos compreender que o significado

de uma ilustração se origina no antes e no depois. Explicando melhor, a arte de ilustrar

se localiza mais na sombra do que nos aspectos simbólicos da palavra.


A Formosa Princesa Magalona - Rui de Oliveira - Editora Ygarapé - 2009


O olhar pergunta mais para o que está na escuridão do que para o que está nos significados dos objetos representados à luz. A ilustração não se origina diretamente do texto, mas de sua aura.

A leitura narrativa é sempre uma compreensão dos significados antecedentes

e conseqüentes da imagem. Com relação ao texto, é sempre um prisma, jamais um espelho.

São muitos os olhares que podemos ter diante de uma ilustração. Nenhuma ilustração possui uma leitura

absoluta do texto, muito menos o leitor da imagem.


A Formosa Princesa Magalona - Rui de Oliveira - Editora Ygarapé - 2009


A leitura será sempre parcial, segmentada e particularizada. Vemos aquilo que esperamos

ver. Vemos a nossa ilusão e a nossa pessoal realidade a partir de uma ilustração

de um texto. A mágica da ilustração é um truque que nós mesmos

fazemos e revelamos. Eis o sentido do que foi exposto como antes e depois.

O momento presente da imagem é apenas um ardil para

resgatarmos nossa experiência vivida e projetarmos e criarmos sua

memória futura. É a pessoalidade da criação do ilustrador que permite

o transporte ao vivido e ao que se vai viver.

Nesse particular, quais são os limites da subjetividade, da pessoalidade do ilustrador diante

de um texto?


A Formosa Princesa Magalona - Rui de Oliveira - Editora Ygarapé - 2009


É difícil saber onde está o ponto exato, a justa interpretação. A sensatez nos diz que deverá sempre existir um equilíbrio entre as intenções literárias do escritor e a visão pessoal do ilustrador dessas intenções.

A originalidade da leitura visual do texto não é uma negação do mesmo. Na arte de ilustrar, as leituras paralelas de um texto são imagens radiantes e profundamente pregnantes.



A Formosa Princesa Magalona - Rui de Oliveira - Editora Ygarapé - 2009


O virtuosismo da imagem e a interpretação do ilustrador não podem

ser mais importantes que a obra. Apesar de vivermos em uma

época em que as releituras são sinônimos de originalidade e pessoalidade.

Freqüentemente nos detemos e apreciamos a leitura, e não no texto original.

Só haverá interesse na ilustração se ela nos possibilitar a criação de um novo texto visual.


A Formosa Princesa Magalona - Rui de Oliveira - Editora Ygarapé - 2009


Uma das finalidades da ilustração nos livros não é apenas apresentar uma versão do texto,

mas sim favorecer a criação de outra literatura, uma espécie de livro e imagem pessoais dentro do

livro que estamos lendo. A arte de ilustrar está assentada no equilíbrio e na harmonia entre a

imaginação verbal e a imaginação visual. Em realidade, o que esperamos de um ilustrador é que

ele seja um livre intérprete do texto, e não um médium. (continua na próxima postagem - Parte 3 )


Este texto é um fragmento do livro Pelos Jardins Boboli - Reflexões sobre a Arte de Ilustrar Livros para Crianças e Jovens - Rui de Oliveira - Editora Nova Fronteira - 2008.

Prêmio FNLIJ Cecília Meireles - O Melhor Livro Teórico - 2009