


Quero nesta seção publicar as principais ilustrações que fiz em todos os livros que desenhei. Um árduo trabalho sem dúvida. Principalmente diante das questões da sobrevivência do dia a dia e do exíguo tempo que disponho.
Ilustro um livro após o outro há mais de 30 anos, mesmo assim, apesar destas dificuldades pessoais, tenho o maior interesse que todos conheçam o que fiz e venho fazendo no campo da ilustração editorial.
Já são mais de 120 livros. Um retrospecto que pretendo aqui neste blog trazer até os dias de hoje, ou seja, em 2010.
Estou começando pelo período que vai de 1978 até 1980. Não estou incluindo as ilustrações e desenhos que fiz na fase de estudante na Hungria, de 1969 até 1975. Pretendo fazer uma seção em breve para estes trabalhos.
No momento, meu objetivo é registrar e divulgar as imagens destes livros que ilustrei aqui no Brasil. Muitos já esgotados há tempos, e acredito que não terão mais reedições. Portanto, não deixa de ser um resgate do meu trabalho, e, sem grandes pretensões, da própria memória da ilustração de livros para crianças e jovens no Brasil.
Gostaria muito que estas ilustrações, ao menos em parte, fossem publicadas em um álbum por alguma Editora.
São pastas e pastas de desenhos, estudos, ilustrações, capas de livros, letterings, sem falar no imenso trabalho que fiz em cinema de animação e televisão.
Sempre guardei e briguei pelos meus originais junto às editoras, mas nem sempre isto foi possível. Apesar de meu esforço pessoal, muitas ilustrações se perderam.
Começo, portanto, esta série com o livro O Menino e o Trem, de Fernando Lobo, publicado pela Editora José Olympio, em 1978. Este livro recebeu a menção Altamente Recomendável pela FNLIJ, em 1979.
DESENHAR POR DESENHAR.
Período de
Esta seleção faz parte de muitos cadernos de desenho que venho fazendo ao longo dos anos. Imagens jamais publicadas e que agora, utilizando os meios planetários da Internet, as revelo para o grande público. O hábito de usar estes cadernos remonta ao meu tempo de estudante, tanto no Brasil, no caso Escola de Belas Artes,
Estes “moleskines” me acompanharam durante os 6 anos em que estudei na Hungria, em Budapeste.
Tenho sempre em minha bolsa, ou pasta, um bloco onde anoto e desenho o que no momento me ocorre. Verdadeiros diários em forma de imagens, cartas visuais endereçadas a mim mesmo. Uma espécie de inventário visual, esfinges gráficas, com a função única de expressar a parte de um todo. Todo que não sei qual seja ou será.
Jamais tive a intenção de que estes desenhos estivessem inseridos em uma objetividade, coerência ou em qualquer projeto. Cada página é uma página, cada desenho é só um desenho. Só e coletivo, corpo e sombra ao mesmo tempo.
O que sempre quis é que eles expressassem unicamente o prazer de desenhar, algo compulsivo em minha vida. Enfim, o desenho pelo desenho.
Muitos dos livros que ilustrei, o estilo que utilizei já aparecia, muitos anos antes, nestes blocos. Fiz um retrato de meu filho Diego quando menino, muitos e muitos anos antes de ele nascer... Acredito que o desenho se origina antes do desenho. Nenhum misticismo nisso. Na verdade, desenhamos a expectativa do ver, ou seja, muito antes de criar uma imagem, esta imagem já existia.
Vemos aquilo que sonhamos e queremos ver, pouco importa o que estamos vendo.
Portanto, apesar de ter afirmado há pouco que estes “moleskines” não tinham nenhuma função além do prazer de desenhar, em contrapartida a isto, a realidade nos mostra uma outra face, uma outra constatação.
Acredito que para exercer com plenitude a criação de uma imagem objetiva, seja para um cartaz, para uma ilustração, ou mesmo no projeto de uma marca, acho importante que este artista conviva de forma diária, com a imagem subjetiva. A explicação se origina de sua ausência. Ou seja, os cadernos de desenho são o relicário da não explicação. A terra fértil para a objetividade. A astronomia surgiu da astrologia, a química da alquimia.
Tudo o que vou fazer em termos de imagem eu já fiz, ou estou rabiscando em meus “moleskines”.
A leitura da imagem
Primeira parte
Infelizmente priorizamos para as crianças, de forma até perversa,
o aprendizado da leitura das palavras como atestado de alfabetização.
Seria mais conveniente se, nas escolas de ensino fundamental,
a iniciação à leitura das imagens precedesse a alfabetização
convencional. Certamente teríamos no futuro melhores leitores e
apreciadores das artes plásticas, do cinema e da TV, além de cidadãos
mais críticos e participativos diante de todo o universo icônico que
nos cerca. A própria posterior alfabetização convencional seria muito
mais agradável às crianças.
Em termos de ilustração, como podemos criar belas imagens para o pequeno
leitor, se ele no máximo aprende a decodificar palavras? A alfabetização
visual proporcionaria à criança não apenas uma leitura melhor,
mas também valorizaria a importância e a beleza das letras, dos
espaços em branco, das cores, da diagramação das páginas e da relação
entre texto e imagem. Realçar o que existe de magia e de descoberta
em cada livro é a melhor forma de incorporá-lo ao cotidiano
das crianças.
Os critérios de avaliação e de escolha de livros ilustrados são geralmente
baseados no âmbito da “preferência pessoal”, alicerçados em gostos
e aversões não justificados. Assim como existe uma sintaxe das palavras,
existe também uma relativa sintaxe das imagens. Logicamente
que para “ler” uma imagem é impossível adotar um método rígido,
um sistema, por exemplo, que avalie unicamente as questões estruturais
— ritmo, linha, cor, textura etc.
É bom esclarecer, logo no início de nossa caminhada e de nossa visitação
às imagens, que estes textos não têm nenhuma pretensão de
ser didáticos. São reflexões, até porque, como foi dito, não há uma
gramática das imagens, muito menos um manual, um receituário de
qualidade. Muitos outros fatores, além dos estruturais já citados, concorrem
para sua correta fruição.
Nesse sentido atua a estética, uma reflexão filosófica que de modo algum
está preocupada com definições rígidas da obra de arte. Na verdade,
todas as linhas de estudo do fenômeno artístico — sejam por
meio da sociologia da arte, da psicologia, da história da arte e até
mesmo da biografia do artista — são conhecimentos sempre parciais.
A leitura de uma obra de arte se dá por camadas, níveis, filtros
esclarecedores; são aproximações que nos revelam uma das muitas
faces da arte.
Este texto é um fragmento do livro Pelos Jardins Boboli - Reflexões sobre a arte de ilustrar livros para crianças e jovens -
Rui de Oliveira - Editora Nova Fronteira - 2008.
Nasceu no Rio de Janeiro. Estudou pintura no Museu de Arte Moderna desta cidade, artes gráficas na Escola de Belas Artes da UFRJ e, durante 6 anos ilustração no Instituto Superior Húngaro de Artes Industriais, atualmente Moholy-Nagy University of Art and Design,
Já ilustrou mais de 100 livros e projetou mais de 400 capas para as principais editoras de literatura infanto-juvenil brasileiras, e é autor de seis filmes de animação, tendo recebido muitos prêmios por seu trabalho com animador e ilustrador. Entre eles por 4 vezes o Prêmio Jabuti de ilustração. Recebeu em 2006 o prêmio de literatura infanto juvenil da Academia Brasileira de Letras com o seu livro Cartas Lunares.
Em fevereiro de 2007 expôs suas ilustrações em mostra individual no Minimondi Festival em Parma (Itália), em agosto do mesmo ano foi o artista homenageado na 12a Jornada Nacional de Literatura de Passo Fundo, Rio Grande do Sul.Participou como ilustrador e palestrante das Clases Maxistrais durante o Salón do Libro Infantil e Xuvenil de Pontevedra de 2007. Foi indicado pela FNLIJ ao prêmio Hans Christian Andersen em 2006 e 2008 patrocinado pelo International Board on Books for Young People -IBBY na categoria ilustração.
Lançou nos últimos anos importantes livros, projetos pessoais, tais como: Max Emiliano - Ed. Nova Fronteira - 2009, Uma História de Amor sem Palavras - Ed. Nova Fronteira- 2009, A Formosa Princesa Magalona e o amor vencedor do cavaleiro Pierre de Provença - Adler Books - 2009, O Príncipe Triste - Ed. DCL - 2009, África Eterna - FTD - 2010, As Aventuras de João Sem-Fim - Ed. Record - 2010, Três Anjos Mulatos do Brasil - Ed. FTD - 2011, Quando Maria encontrou João - Ed. Nova Fronteira - 2012, Amor Plenilunar - Ed. Nova Fronteira - 2012, Anjo do Bosque - Ed. Nova Fronteira - 2013.
Rui de Oliveira lecionou mais de 30 anos no Curso de Comunicação Visual Design da Escola de Belas Artes - Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Fez seu mestrado e doutorado na Escola de Comunicações e Artes da USP.
Maiores detalhes sobre seu trabalho podem ser vistos no:
www.ruideoliveira.com.br (site oficial)
Perfil no Facebook: Rui de Oliveira