segunda-feira, 16 de maio de 2011

PERFORMANCE NO SALÃO FNLIJ DO LIVRO PARA CRIANÇAS E JOVENS - Centro de Convenções Sul América


Neste sábado, 11 de junho, às 15 horas, estarei saindo do meu casulo no bairro do Humaitá.
Vou participar do SALÃO da FNLIJ, no Espaço Petrobras do Ilustrador com uma performance.
Apesar deste nome não irei fantasiado.
Apenas com meu lápis e meu prazer em desenhar.
Será uma honra para mim a presença de meus amigos, amigas,
e os amantes da ilustração de modo geral.
Até lá.
Recebam um afetuoso e grato abraço.

Rui de Oliveira







O MARAVILHOSO EM TEMPOS SOMBRIOS

Tenho o grande prazer de, pela primeira vez, postar algumas artes selecionadas do livro Chapeuzinho Vermelho e outros contos por imagem, publicado em 2002 pela Companhia das Letrinhas, com textos da escritora Luciana Sandroni e da historiadora e antropóloga Lilia Moritz Schwarcz. Por sua estrutura gráfica e processo narrativo da história, ele foi considerado como um livro de imagem. Concebi-o em preto e branco, não obstante a representação tradicional dos contos de fadas geralmente são impressos em policromia.

Considero-o um dos meus melhores trabalhos como ilustrador, tendo o mesmo suscitado, até hoje, algumas polêmicas. Entretanto, este fato não o afastou do público, tampouco do interesse acadêmico. O livro encontra-se em sua 3ª edição e tem sido objeto de estudo em dissertações de mestrado.

Do texto da professora Lilia Schwarcz — ao conceituar o livro sob o título de Rumo a um mundo diferente —, transcrevo pequeno trecho bastante esclarecedor sobre a localização social dos contos de fadas, e, por extensão, da própria atmosfera gráfica das ilustrações. Diz ela à página 8 de sua brilhante reflexão:

“Na verdade, estes contos já existiam muito antes de ser inventado o “folclore”, essa modalidade de conhecimento criada no século XIX, que acabou por dar a tais narrativas um tom básico, uniforme e destituído de tanto impacto e brutalidade. Com isso, ganhou-se em sutileza, mas se perdeu um retrato mais acurado do universo mental dos camponeses nos tempos do Antigo Regime e da monarquia.

Se os nossos dias não andam nada fáceis, esses contos retraçam, a seu modo, uma história bastante silenciosa dessas aldeias, onde vigia um regime senhorial e uma economia de subsistência, a qual mantinha os camponeses sempre presos à terra e às poucas oportunidades que dela advinham. Com técnicas rudimentares de cultivo, uma quantidade insuficiente de cereais e pouco gado para produzir adubo e alimento, vivia-se muito próximo da penúria e a fome transformava-se em vocabulário local.

Para boa parte dessa população a vida na aldeia representava uma luta pela sobrevivência, e uma batalha cotidiana para permanecer acima da linha frágil que separava os pobres dos indigentes e desenganados. Quem sabe seja por isso que João e Maria tenham saído da morada de seus pais, à procura da sorte, e tenham se deparado (ou sonhado) com uma casa cheia de guloseimas e de cujas paredes brotavam alimentos.”

Mais adiante, alertando sobre as simplificações deterministas, nos diz a professora, à página 9.

“É claro que essas histórias trazem espaço para a fantasia e o sonho, e por isso mesmo introduzem animais falantes e situações fantásticas. Nenhuma narrativa é apenas e simplesmente um reflexo do seu contexto imediato. Mas, na mesma medida, pode-se entender como estes contos permanecem enraizados e presos no cenário dividido do mundo dos camponeses: a aldeia e a casa de um lado; a estrada aberta e imprevisível de outro”

Portanto, procurei representar estas histórias antes de sua glamourização, do adocicamento das versões “corretas e adequadas”. Quanto à concepção das ilustrações, procurei evitar o fenômeno da domesticação da figura do urso, tão bem estudado por Marina Warner (1). Outrora rei dos animais no folclore da Idade Média, dada a sua força e ferocidade, ele era um verdadeiro símbolo do poder — com o transcorrer dos tempos veio a se transformar num inofensivo bichinho de pelúcia.

Fazendo uma ilação deste fenômeno com os estilos das ilustrações, procurei aproximar o meu trabalho de representações do medievo em obras de pintores como, Pieter Brueghel (c.1525-69), Hieronymus Bosh (c.1450-1516), e, finalmente, do gravador Jacques Callot (1592/3-1635), que, como poucos, expressou o mundo de misticismo, de guerras e soturnez medieval num estilo grotesco e bizarro.

Tecnicamente, para individualizar as três histórias, utilizei, em cada conto de fadas, grafites e lápis crayon, de diferentes maciez.

Com este livro, obtive, em 2003, o meu quarto prêmio Jabuti de ilustração, e também o Prêmio Luiz Jardim — o melhor livro de imagem dado pela Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil – FNLIJ - 2003.

Rui de Oliveira

(1) Da Fera à Loira - Marina Warner - Companhia das Letras


Primeiros estudos para o personagem Chapeuzinho Vermelho.




































Palavras chaves: Ilustração, Contos de Fadas, Chapeuzinho Vermelho, João e Maria e o Barba Azul .
Keywords: Illustration, Fairy Tales, Red Riding Hood, Hansel and Gretel and The Blue Beard.

Um comentário:

  1. Olá Rui, seu trabalho é maravilhoso, foge dos esteriótipos em literatura infantil e está no patamar das artes, sorte dos leitores mirins que, além de aprender literatura, serão "educados" e interpretar arte. Parabéns, a distância física me impede de estar lá no evento mas, já comprei seus livros. Um abraço, da fã Leka.

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