segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Refletindo sobre as águas das imagens - Processo de criação do livro O Príncipe Triste

Algumas palavras que as imagens não substituem

Antes de tudo, gostaria de pedir desculpas.

Há algum tempo não atualizo o meu blog. Este final de 2010 foi complicado em termos de trabalho. Concluí o livro África Eterna para editora FTD
— um árduo trabalho de pesquisa, onde fiz o texto, além, logicamente, das muitas ilustrações em tinta acrílica e têmpera ao ovo.

A seguir, ilustrei As Aventuras de João Sem-Fim. Trata-se de uma nova versão deste livro de imagem que está sendo publicado pela Editora Record.

No final de novembro, comecei a ilustrar O Herói Imóvel, com legendas de nossa grande escritora Rosa Amanda Strausz. O livro comemora os 20 anos de literatura da artista, e estará sendo lançado agora em janeiro pela Editora Rovelle, do Rio de Janeiro. Enfim, estes livros impediram de fazer, com a regularidade desejada, as postagens em meu blog.

O trabalho continua e, no momento, ilustro um livro importante em minha carreira: Os Três Anjos Mulatos do Brasil, para a Editora FTD.

Pretendo fazer a partir de janeiro conforme a minha intenção inicial duas postagens mensais, sempre salvaguardando os chamados “acidentes de percurso”...

Livros no PNBE.

Tive a grande alegria no final de 2009, bem como na última lista do PNBE (Plano Nacional de Bibliotecas Escolares), divulgada em agosto de 2010 de ter sido selecionado com 3 livros autorais. São milhares de crianças de escolas públicas em todo o Brasil que terão em mãos, por meio de suas bibliotecas, os meus livros uma honra e um prazer para qualquer artista.

Foram: A Formosa Princesa Magalona e o amor vencedor do Cavaleiro Pierre de Provença, publicado pela Adler-Books em 2009, e adquirido no mesmo ano pelo PNBE. Na última licitação de 2010, foi igualmente selecionado o livro de imagem Uma História de Amor sem Palavras, editado pela Nova Fronteira, em 2009.

O outro livro adquirido foi O Príncipe Triste, publicado em 2009 pela Editora DCL. O texto ficcional é de minha autoria, e os textos históricos são da importante historiadora e antropóloga Lília Moritz Schwarcz. Tanto o A Formosa Princesa Magalona e Uma História de Amor sem Palavras tiveram suas artes postadas neste blog.

Apenas como informação complementar, registro aqui também a minha alegria de ter livros que participei somente como ilustrador serem adquiridos pelo PNBE. Como escritor e ilustrador, tive outros trabalhos comprados pelo PNBE, como, por exemplo, A Bela e a Fera, A Lenda do Dia e da Noite, ambos editados pela editora FTD, e Cartas Lunares, da Record.

O livro passo a passo.

Na presente edição, quis publicar parte do processo de criação do livro O Príncipe Triste, desde os primeiros estudos até as artes finais. É claro que faço registro simplesmente do modo como trabalho, sem nenhuma pretensão de estabelecer regras, pois cada um tem a sua própria maneira de ilustrar. O importante é que, desta maneira, espero contribuir um pouco para divulgar a arte da ilustração de livros, um trabalho ao qual, com muita dedicação e sempre renovada paixão, venho me dedicando há mais de 30 anos.

Transcrevo complementando esta postagem, uma entrevista que dei à Revista Projetos Escolares - Educação Infantil, ano 6, edição 64, onde brevemente historio à jornalista Malu Gonçalves o trajeto de criação do O Príncipe Triste.

Na postagem da seção Desenhar por Desenhar - Meus cadernos de desenho, prossigo publicando meus estudos sobre a figura humana. A representação do corpo humano é uma compulsão pra mim. Desenhá-lo é uma necessidade diaria e imperiosa.

Em Refletindo sobre as águas das imagens – a ilustração de livros, continuo transcrevendo alguns trechos que considero importantes do meu livro Pelos Jardins Boboli – Reflexões sobre a arte de ilustrar livros para crianças e jovens, editado pela Nova Fronteira.

Acompanham visualmente estas reflexões as ilustrações do Max Emiliano, um livro de imagem que publiquei também pela Nova Fronteira.

Um fraternal abraço.

Rui de Oliveira – Janeiro/Fevereiro 2011 – Rio de Janeiro.


São estes os materiais que utilizo em quase todos os livros que ilustrei.

Capa do livro

Quarta-capa.


Ilustração da página 15, sendo artefinalizada em tinta acrílica.

Minha mesa de trabalho.

O "caminho de ferro", fundamental na conceituação e planificação de um livro

A boneca do livro.

Esboço das páginas e a relação texto e imagem.

Acho fundamental o resgate da arte da tipografia e da caligrafia.
Em todos os livros que ilustro, sempre procuro desenhar o lettering à mão.


Cópia que fiz do monograma do Imperador D. Pedro II. Utilizei-o na guarda do livro.

Vinheta da página 26. Silhueta do Imperador quando menino.
Vinheta para página 26. Não utilizada.


Traço para a ilustração da página 5.


Fiz em aquarela as ilustrações referentes aos tempos atuais.

A personagem é minha mãe, Dona Helena. Desenhei-a de memória.



Foto que bati do Museu Imperial de Petrópolis para usá-la como referência e documentação.

Traço para a ilustração da página 7. Geralmente, desenho os planos das figuras em separado.

Desenho primeiramente os cenários, para depois, gradualmente, ir desenhando os personagens e seus planos.


Arte final da página 7 em aquarela.

Foto que bati tendo ao fundo o quadro de Félix Emile Taunay, O Retrato do Imperado D. Pedro II.
Todas as referências iconográficas tiveram a gentil permissão de uso dada pelo Museu Imperial de Petrópolis.


Estudos e pesquisas de penteados dos anos 50 a serem utilizados nos personagens.



Primeiros estudos para a ilustração da página 9.

Faço geralmente muitos estudos rápidos para uma cena.
Mudando o ângulo, os gestos e, principalmente, a linha do horizonte.



Procuro sempre estudar a linguagem dos gestos e das expressões por meio do olhar,
das mãos e dos pequenos detalhes.



Considero o desenho e a linha como fundamentos da arte de ilustrar.
Um desenho bem estruturado sustenta uma pintura inábil
o contrário não.


Quando chego à conclusão da cena em termos de descrição e narrativa,
procuro desenhar e estudar as figuras em separado.


Todas as crianças aqui representadas existiram realmente.
Foram meus coleguinhas de escola. Desenhei alguns de memória; outros, a partir de uma velha foto da época.


O menino em primeiro plano, com um caderninho na mão, sou eu.

Primeiros estudos para representar D. Pedro II aos quatorze anos.

Estudo que considerei definitivo do personagem D. Pedro II com 14 anos.

Interior do Museu Imperial. Sala que serviu de referência para as cenas entre D. Pedro II e a menina Helena,
apesar de os fatos reais não terem acontecido no Palácio Imperial de Petrópolis.


Primeiros esboços para a ilustração das páginas 10 e 11.

Gosto de desenhar rapidamente as sugestões da cena.
O importante é encontrar a atmosfera e a expressão dramática dos personagens.


Acho que o processo de ilustrar se aproxima muito dos princípios e da estética do cinema mudo, bem como do teatro.
O ilustrador é na verdade um diretor de cena também.



Arte final da pág 10 e 11.

Primeiros esboços para a página 12-13.



Com o traço da ilustração definido, vou agora transferi-lo na mesa de luz para o papel de arte-final.
No caso deste livro, usei o Fabriano Cotton 210 gr.
Também trabalho com o Canson Grain em suas duas gramaturas, o Aquarelle Montval de 300 gr., e o Arché 300 gr., além de outros, quando encontro.
Devido à utilização massificada da computação gráfica, os papéis artísticos se tornaram cada vez mais raros e caros.
A solução tem sido importá-los ou comprá-los em viagens ao exterior.


Arte-final das páginas 12 e 13.


Estudos iniciais para as páginas 14 e 15.
Para fazer estes esboços, eu trabalho com lápis 6B e 8B sobre papel de layout 40 k.
Gosto também de esboçar no papel manteiga.
Neste caso, utilizo lápis 2B ou HB. Sempre uso lápis para fazer croquis. Frequentemente utilizo o lápis Pitt.


Estudos mais definidos para a cena. Sinceramente, não acredito nas primeiras ideias.
As boas soluções surgem de uma sessão contínua de desenhos, bem como de suas variações.



Ilustrar uma cena é procurar um símbolo, uma metáfora visual do texto.

Arte final das páginas 14 e 15.

Nestes estudos, procuro ser o mais livre possível — a ordem vem depois.
Acho que mesmo no croqui o ilustrador deve economizar as linhas.
Sei que o erro e o arrependimento (pentimento) existem no ato de desenhar e pintar.


Traço final para a página 17

Arte final.

Esboço para a página 19.

Traço final.


Arte final da página 19.

Croqui para a cena da página 20.
A menina Helena encontra na mesma sala D. Pedro II já idoso, e prestes a ser banido do país.


Estudos e variações da mesma cena.

Outra mudança de ângulo e enfoque no personagem D. Pedro II.


Arte final da página 21.



Estudo para a página 23. A menina conversa com D. Pedro II.

Outro estudo para a cena. Neste caso a menina estaria de pé.

Após alguns estudos a arte final da página 23.
Traço final para a cena de despedida de D. Pedro II.

Arte final da página 25.



A segunda parte do livro é escrito pela historiadora e antropóloga Lilia Moritz Schwarcz.
Ela traça um perfil histórico do nascimento até o exílio e morte do Imperador.
Reproduzo abaixo duas páginas deste estudo.


Entrevista que dei à Revista Projetos Escolares - Educação Infantil, ano 6, edição 64, onde brevemente historio o processo de criação do livro.

Projetos Escolares –
A ideia de escrever o livro veio de uma experiência pessoal sua. Como foi isso?

Rui de Oliveira– Qualquer história tem sempre componentes de imaginação e memória. A de O Príncipe Triste surgiu de uma memória da minha adolescência, quando participei de um concurso sobre a Semana da ASA (período em que a Aeronáutica comemora o Dia do Aviador e da Força Aérea Brasileira) e ganhei uma viagem até Petrópolis. Na época fiquei muito impressionado com o Palácio Imperial, onde funciona o Museu Imperial.

Os quadros, as gravuras, as salas, os móveis e aquelas pantufas que os visitantes têm que usar para andar pelo lugar (fornecidas pelo Museu com o intuito de preservar o piso de mármore de Carrara, mármore belga e madeira nobre)... Tudo foi uma descoberta, uma viagem a um mundo imaginário, que ficou eternizada para mim. Lembro-me perfeitamente da sensação que tive diante dos quadros, inclusive o de Dom Pedro II, pintado por Felix Emile Taunay dois anos antes de aquele menino se tornar imperador.

Essa pintura é o leitmotiv do meu livro. Além disso, resolvi colocar como personagem principal da história uma menina, que é a minha mãe. Quis criar uma relação diferenciada, não de um menino para outro menino, mas sim de uma menina para um menino.

Há um aspecto de enlevo dela diante desse príncipe, que tem perfeita consciência do que faziam com ele e de que estava sendo usado. Dom Pedro II é uma figura extraordinária.

P.E. – Como foi seu processo de criação?

R.O. – A vontade de fazer esse livro já vinha de muito tempo. Levei quatro anos realizando pesquisas e estudos. Não foi um trabalho fácil do ponto de vista documental, ele transcorre em duas épocas diferentes e para cada uma existe uma indumentária específica.

Todos os aposentos retratados no livro existem no Palácio Imperial, por exemplo. Eu fui para lá, desenhei e fotografei tudo. A cena em que o príncipe aparece no meu livro com seis anos recitando um verso para José Bonifácio é um momento que existiu realmente, mas não havia nenhuma imagem de Dom Pedro II nessa época. Eu tive que realizar vários estudos sobre o biótipo da família imperial brasileira para criar a imagem.

Para isso, trabalhei com retratos dos Bragança, dos Habsburgo e de Dom Pedro I com essa idade. Com relação aos textos, a parte ficcional é minha e o resgate histórico é de Lilia Schwarcz, minha amiga e parceira pela segunda vez.

É uma grande pesquisadora, historiadora e antropóloga brasileira. Ela fez um estudo sobre os contos de fadas em um livro que ilustrei sobre Chapeuzinho Vermelho, João e Maria e O Barba Azul. Foi uma grande honra e prazer ter novamente trabalhado com ela. Seu texto materializou o perfil histórico da trajetória de vida de Dom Pedro II. Isto foi conceitualmente muito importante na concepção final do livro. O trabalho dela dá validade ao que estava dizendo, afinal é um livro que tem todos os ingredientes do real, mas que foi fundamentado no imaginário.

P.E. – Qual foi sua sensação ao ver pela primeira vez o retrato de Dom Pedro II?

R.O. – Quando vi o quadro durante a visita ao Museu Imperial me impressionou saber que um menino tinha sido imperador. Isso que me tocou na época. Depois, com o correr dos anos, foi que tive vontade de criar uma obra com a memória dessa tarde.

Outro aspecto importante é que o livro rememora o único estadista republicano que tivemos, apesar de ser imperador. O próprio Dom Pedro II dizia que gostaria de ser um presidente republicano e não um imperador. A visão que ele tinha da liberdade de imprensa, sua vontade de libertar os escravos, impedida pelo partido conservador, a maneira como ele se recusou a deixar que aumentassem o salário dele.

Ele recebeu sempre o mesmo salário. Mesmo quando foi para o degredo, ele se recusou a ganhar uma pensão da República. Tanto é que ele morreu em 1891 no Hotel Bedford, em Paris, em absoluta penúria, na miséria...


P.E. – O nome do livro é bastante forte. Você acredita que Dom Pedro II tenha sido realmente uma pessoa triste?

R.O. – Muito triste. Lendo os diários dele isso é perceptível. Ficou órfão de mãe aos dois anos e de pai aos seis e passou a viver com as duas irmãs, Januária e Francisca, no Palácio no bairro de São Cristóvão, no Rio de Janeiro, onde eu nasci. Talvez daí venha minha afinidade com ele.

Foi um homem muito solitário, até porque tinha uma formação cultural acima da média da época. Casou-se contra a vontade, enganado. Mostraram-lhe uma gravura da futura noiva, D. Tereza Cristina, que não tinha nada a ver com ela. Esse camafeu está reproduzido no livro. Só quando ela chegou aqui ele viu que era muito gorda, baixa e tinha uma perna mais curta que a outra.

Esse é um dos motivos para ter sido um homem muito sofrido. Além de tudo, não tinha talento para ser imperador. O que ele queria era ser um estudioso, um professor. Tanto é que, quando vai embora do Brasil, ele diz “Já que os brasileiros não me querem como imperador, talvez eu possa servir como um professor”, uma vez que tinha um grande apreço pela educação e pelo Colégio Pedro II, fundado por ele e onde chegou a dar aulas.

Acho que isso deve ser interessante para um professor saber.

Outra questão que me levou a colocar esse nome foi um conto de Oscar Wilde chamado O Príncipe Feliz. Peguei o nome dessa história que eu gosto muito e inverti. Mas o motivo principal é a própria vida de Dom Pedro II, sem dúvida. Esse aspecto da solidão é muito importante para compreender a personalidade dele.

Acho que é algo que merece ser divulgado sem essa carnavalização que se faz aqui no Brasil com nossa história, e que eu detesto. Vemos frequentemente na televisão, no cinema e também no teatro uma carnavalização cretina, mentirosa e mal-informada de figuras históricas, como D. João VI, D. Pedro I e D. Pedro II — este desconhecimento de nosso passado está inserido também no complexo doentio do brasileiro em se autodepreciar. Não se pode brincar com o passado histórico de um país, criando situações mentirosas.

P.E. Você retrata Dom Pedro II primeiro como um garoto prestes a se tornar Imperador do Brasil e depois como um senhor que é obrigado a deixar o País. Por que escolheu esses momentos?

R.O. – Foram duas situações em que ele foi obrigado a fazer algo que não queria. São momentos em que ele é banido. Em um, banido da própria infância. Mesmo tendo 14 anos, ele se revestiu de uma responsabilidade muito precoce para sua idade.

Sabia o que estava fazendo, apesar de não gostar de política. A outra é quando as pessoas o traem, inclusive Deodoro da Fonseca, que se tornaria presidente. Ele deveria ir embora de manhã, mas foi acordado de madrugada para partir, pois os golpistas ficaram com medo de que o povo se revoltasse.

Dom Pedro II era uma figura muito popular, principalmente entre os negros. Anteciparam seu banimento para evitar alguma manifestação quando ele cruzasse a cidade em direção aos navios que iriam levá-lo com a família para a Europa.

P.E. – E o brasileiro conhece esse estadista?

R.O. – A figura de Dom Pedro II está sendo resgatada. Há livros e mais estudos sobre o Império para mostrar que o Brasil só é esse país de hoje por causa dessa experiência, que manteve nossa unidade, idioma e integridade territorial. Isso jamais seria conseguido pela República.

Acho importantíssimo trazer para as crianças essa figura emblemática que é o Pedro II. Quando ele morreu, o premiê inglês William Gladstone disse que ele era o modelo de governante para o mundo. O próprio The New York Times fez inúmeros elogios ao espírito democrático do imperador.

Era uma figura muito digna da nossa história, muito tolerante, muito democrático, e hoje se vive em uma república repugnante. A juventude precisa saber que existiu uma personalidade como Dom Pedro II, que era elogiada por todos. O livro permite que a criança e o jovem comecem a compreender a complexidade da personalidade de um homem como ele. Além disso, o imaginário monárquico que o povo brasileiro possui se deve, em grande parte, ao carisma e à imagem que Dom Pedro II criou de si mesmo junto ao povo, principalmente para manter a unidade nacional e territorial do país.

Neste momento em que o Brasil se projeta internacionalmente como potência econômica, temos que trilhar os passos do passado. Entender que os sonhos de uma grande nação já passavam pela cabeça de D. Pedro II, por exemplo. Nada melhor traduz esse sentimento do que a sua obsessão em manter a integridade territorial do País, quando tudo internacionalmente conspirava contra tal feito.

P.E. – O fato de admirar Dom Pedro II tornou mais fácil ou mais difícil escrever O Príncipe Triste?

R.O. – Nenhum trabalho deste tipo é fácil. A ilustração documental, histórica e figurativa é muito pouco praticada atualmente, apesar de sua grande importância didática e social perante as novas gerações. Foi realmente um trabalho árduo, que exigiu muita paciência na realização fiel das artes.

Mas todo este esforço justifica-se plenamente, já que o livro retrata e pretende homenagear uma personalidade merecedora de todo o apreço dos brasileiros. Para mim, os livros devem, ao menos, almejar um espaço na memória afetiva dos pequenos leitores. O livro que termina na sua última página, sinceramente não é um bom livro, não é uma obra de arte.

P.E. – Como você vê a relação do brasileiro com a sua história?

R.O. – Atualmente está tendo uma grande mudança nisso. Temos uma grande quantidade de excelentes livros sobre o nosso passado. Já existe um forte interesse em saber quem fomos e o que somos. Portanto, sinto-me quase na obrigação de resgatar as belas histórias e trazê-las à luz de nossos dias. Mostrá-las com arte e bom gosto, apoiados em documentação séria e saudável imaginação.

O brasileiro está aprendendo a ter um pouco mais de auto estima. As coisas mudaram muito nos últimos anos... Após a queda do regime militar, é inegável o avanço social brasileiro. Depois disso, houve quatro governos sociais democratas. Isso deu uma continuidade ao avanço da nossa sociedade.

Quando mudamos o presente, automaticamente mudamos o passado, então o brasileiro passa a se ver melhor no passado. Esse livro está sintonizado com um olhar mais real e mais confortável perante o passado, que não é mais uma vergonha, muito pelo contrário. Por isso, é preciso estudar e ver o que houve de bom e de errado, mas não negar nossa história.

P.E. – Nesse sentido, a escola tem uma abordagem adequada do nosso passado?

R.O. – É uma abordagem reducionista, que costuma ver a história independentemente das pessoas, vê apenas os fatos. A grande mudança que está ocorrendo é que as pessoas estão sendo consideradas. Você não pode estudar o Segundo Império sem saber como era Dom Pedro II, o que atuava nele, qual era sua relação com as pessoas que o rodeavam. Esse lado humano é a maior novidade no estudo e é o que tento fazer no livro.

FIM

5 comentários:

  1. Rui que belíssimo presente nos deu ao criar este livro resgatando uma figura honrada em linguagem extraordinária ao mesmo tempo didática e fantasiosa.

    As ilustrações, sempre, são orbras de arte.

    Parabéns, um abraço, LeKa.

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  2. Que tesouro é este blog! Fico maravilhada de ver seu trabalho.

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  3. Sou fã do Rui.. além da competência extraordinária como ilustrador é, também, um crítico; alguém que produz pensamento no Brasil.

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  4. rui vc tem uma mente brilhante parabens

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  5. congratulações ao autor pelo tema da obra, o resgate da imagem de um homem da dimensão de Don Pedro II é um dever aos bons brasileiros.

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