sábado, 4 de maio de 2013
REFLETINDO SOBRE AS ÁGUAS DAS IMAGENS - Fuligens, carvão e luz nas sombras.
Quarta-capa
Fuligens,
carvão e luz nas sombras.
Tive e
continuo tendo — enquanto ilustrador e amante da grande literatura — o
privilégio de, ao longo da minha carreira, ilustrar grandes textos. É o caso do
livro Pena de Ganso, da minha querida amiga Nilma Lacerda — uma seleção de
ilustrações ora apresento aqui no blog, inclusive com alguns estudos. Este livro foi publicado em 2005 pela Editora DCL de São Paulo.
A
primeira grande empatia que tive ao ler o texto, além obviamente de sua alta
qualidade, foi o fato de a história se passar em Bonsucesso, um bairro próximo
àquele onde passei minha infância, até a idade dos 14 anos. Refiro-me a
Benfica.
Nasci em
São Cristóvão, na cidade do Rio de janeiro. Com alguns meses de vida, a minha
família foi morar em Benfica, à época uma área fabril e de classe média muito
baixa. Hoje, praticamente este pequeno bairro não existe; é apenas uma sucessão
de oficinas, empresas e lojas de material para automóveis.(continua)
Estudos iniciais
No
texto, a escritora cita a linha do trem, que passava não muito longe da minha
casa. Portanto, eu conheci a ambientação da história, rigorosamente verídica,
narrada pela Nilma Lacerda. Eram pequenas casas em que as pessoas dormiam cedo,
a luz era mortiça, não havia televisão e as famílias ouviam o rádio ao seu redor.
As residências, devido à pouca iluminação, tinham muitas sombras e muitas áreas
escuras. As ruas do bairro também eram escuras. Esta era a visão que eu tinha
quando criança.
Em
muitas casas, a maioria, os fogões eram a carvão. Havia sempre uma fuligem,
cinzas e borralhos no chão e nas paredes. Eu mesmo, por ser o menor dos irmãos,
esta tarefa de comprar carvão sempre sobrava pra mim. (continua)
Lettering - Não foi utilizado
Estudos de indumentária - década de 30
Estudos de indumentária - década de 30
Era um
armazém no largo de Benfica, entulhado até o teto de sacos de carvão. Quem os
vendia era um senhor português, Seu Antônio. Ele tinha as mãos e o rosto
eternamente encarvoados.
Este foi o clima, a atmosfera que pretendi passar
nas ilustrações. Os aposentos que desenhei no livro são escuros, os
rostos sempre são tomados de claros e escuros acentuados. Diferente das
pinturas de Caravaggio, aqui eram sombras de fuligens e de carvão. Neste
sentido, optei, obviamente, por trabalhar com grafites de maciez bem alta, mas
basicamente com carvão e crayon preto pitt e conté. (continua)
Estudos de indumentária - década de 30
As ilustrações são compridas no sentido longitudinal, abrangendo,
desta forma, várias páginas, como se fossem um travelling cinematográfico. Desenhei tudo em formato A4
para que o leitor visse claramente a linha, o fim de cada desenho, independente
do fim da ilustração. Quis dar, desta forma, uma impressão de retábulos.
Na segunda parte do livro, que se passa em nossos
dias, utilizei aguada e contornos a nanquim.
Em resumo, é um grande prazer pra mim
apresentar esta seleção de ilustrações que fiz para este belo livro da Nilma
Lacerda.
Rui de Oliveira
Estudos iniciais
Vinheta
Vinheta
Vinheta
Estudos iniciais
Estudos iniciais
Vinheta
Ilustração para a segunda parte do livro - feita em aguada
Ilustração para a segunda parte do livro - feita em aguada
Ilustração para a segunda parte do livro - feita em aguada
Vinheta
Palavras chaves: Classe média brasileira - Ilustração em carvão e grafite - Ilustração em preto e banco
Key Words: Brazilian middle class - Charcoal/graphite illustration - Black and white illustration.
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mais uma vez parabéns pelo belíssimo trabalho artístico,desenvolvido nesta tarefa,tão bem executada.
ResponderExcluirum grande abraço Ruy.
Galvão Pretto.