A Leitura da Imagem
Segunda parte.
Ao estudarmos a imagem impressa, não importando em qual suporte
— vídeo, papel, película etc. —, vamos compreender que o significado
de uma ilustração se origina no antes e no depois. Explicando melhor, a arte de ilustrar
se localiza mais na sombra do que nos aspectos simbólicos da palavra.
A Formosa Princesa Magalona - Rui de Oliveira - Editora Ygarapé - 2009
O olhar pergunta mais para o que está na escuridão do que para o que está nos significados dos objetos representados à luz. A ilustração não se origina diretamente do texto, mas de sua aura.
A leitura narrativa é sempre uma compreensão dos significados antecedentes
e conseqüentes da imagem. Com relação ao texto, é sempre um prisma, jamais um espelho.
São muitos os olhares que podemos ter diante de uma ilustração. Nenhuma ilustração possui uma leitura
absoluta do texto, muito menos o leitor da imagem.
A leitura será sempre parcial, segmentada e particularizada. Vemos aquilo que esperamos
ver. Vemos a nossa ilusão e a nossa pessoal realidade a partir de uma ilustração
de um texto. A mágica da ilustração é um truque que nós mesmos
fazemos e revelamos. Eis o sentido do que foi exposto como antes e depois.
O momento presente da imagem é apenas um ardil para
resgatarmos nossa experiência vivida e projetarmos e criarmos sua
memória futura. É a pessoalidade da criação do ilustrador que permite
o transporte ao vivido e ao que se vai viver.
Nesse particular, quais são os limites da subjetividade, da pessoalidade do ilustrador diante
de um texto?
A Formosa Princesa Magalona - Rui de Oliveira - Editora Ygarapé - 2009
É difícil saber onde está o ponto exato, a justa interpretação. A sensatez nos diz que deverá sempre existir um equilíbrio entre as intenções literárias do escritor e a visão pessoal do ilustrador dessas intenções.
A originalidade da leitura visual do texto não é uma negação do mesmo. Na arte de ilustrar, as leituras paralelas de um texto são imagens radiantes e profundamente pregnantes.
A Formosa Princesa Magalona - Rui de Oliveira - Editora Ygarapé - 2009
O virtuosismo da imagem e a interpretação do ilustrador não podem
ser mais importantes que a obra. Apesar de vivermos em uma
época em que as releituras são sinônimos de originalidade e pessoalidade.
Freqüentemente nos detemos e apreciamos a leitura, e não no texto original.
Só haverá interesse na ilustração se ela nos possibilitar a criação de um novo texto visual.
A Formosa Princesa Magalona - Rui de Oliveira - Editora Ygarapé - 2009
Uma das finalidades da ilustração nos livros não é apenas apresentar uma versão do texto,
mas sim favorecer a criação de outra literatura, uma espécie de livro e imagem pessoais dentro do
livro que estamos lendo. A arte de ilustrar está assentada no equilíbrio e na harmonia entre a
imaginação verbal e a imaginação visual. Em realidade, o que esperamos de um ilustrador é que
ele seja um livre intérprete do texto, e não um médium. (continua na próxima postagem - Parte 3 )
Este texto é um fragmento do livro Pelos Jardins Boboli - Reflexões sobre a Arte de Ilustrar Livros para Crianças e Jovens - Rui de Oliveira - Editora Nova Fronteira - 2008.
Prêmio FNLIJ Cecília Meireles - O Melhor Livro Teórico - 2009
Rui,
ResponderExcluirótimo texto! Hoje penso muito em suas considerações sobre imagens ao construir meus textos.
Procuro escrever para o leitor que atua como co-criador do texto que lê. Assim, há de se deixar lacunas, não dar tudo de mão beijada para ele poder ser também autor.
Muito bom acompanhar este blog.
Mestre Rui;
ResponderExcluirque bom encontrá-lo OnLine e compartilhando o conhecimento. Farei deste blog minha segunda casa.
Olá Rui.
ResponderExcluirParabéns por este livro valioso que comprei e estou lendo. Aliás, "Pelos jardins de Boboli" será referenciado em minha tese de doutorado, pois trabalharei a relação de sentido entre imagem poética e a ilustração. Visite meu blog em
Abraços